Cobertor curto

Falamos ontem sobre o orçamento brasileiro 2025 ainda não ter sido votado. Em praticamente todas as democracias, esse é o ponto de embate mais crítico entre os poderes. Prova disso é já termos assistido algumas vezes o congresso americano bloquear recursos que impossibilitaram gastos do executivo, cenário conhecido como shutdown. Clinton, Obama e o próprio Trump já passaram por isso. E é exatamente o que pode acontecer nos Estados Unidos a partir da noite desta sexta-feira.

Caso o senado americano não aprove a peça orçamentária enviada por Trump até o final do dia (a câmara já aprovou), tudo ficará paralisado: do salário de funcionários públicos ao tráfego aéreo, do pagamento de seguro social às contas de água e luz das repartições. Para que não aconteça, sete senadores democratas precisarão mudar de ideia, já que não basta a maioria simples dos republicanos. O líder do partido azul no senado, Chuck Schumer, de Nova York, já afirmou que votará a favor por não ver nada de excepcional na proposta: o governo quer cortar 13 bilhões em diversas áreas, e aumentar em 6 bilhões o orçamento com defesa. Realmente, nada de escabroso. Mas honestamente, é bem razoável acreditar que os democratas criem esse desgaste para Trump. É uma manobra legítima que faz parte do jogo.

Enquanto isso no Brasil, a Ministra Simone Tebet, do planejamento, solicitou ontem o remanejamento de 40 bilhões no orçamento não votado para acomodar os programas Pé de Meia e Vale Gás. Detalhe, para o programa Pé de Meia, ela pediu em ofício que seus recursos possam ser elevados a qualquer tempo, com projetos de créditos suplementares posteriores. Ou seja, o governo quer um cheque em branco para aumentar o programa caso perceba sua eficiência eleitoral. Na esteira da baixa popularidade, fica claro que esses ajustes tem mais preocupação com as urnas do que com o interesse nacional. De toda forma, não seria nada mal termos uma legislação mais dura quanto a atrasos na votação da Lei Orçamentária brasileira. Mesmo porque, gerir o frio causado pelo cobertor curto do orçamento é uma das principais funções dos deputados e senadores.

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