O preço da Groenlândia

A Groenlândia deve ser o pedaço da Terra (ou na terra?) menos noticiado. Menos até que Brunei e as extravagâncias do seu sultão maluco ou o Turcomenistão, que pouca gente sabe apontar no mapa e de loucura não fica atrás. Isso até a posse de Trump.
Motivo de piada na imprensa em 2025, o desejo de “comprar” da Dinamarca seu Território Autônomo (leia-se colônia) já havia sido mencionado pelo presidente americano em seu primeiro mandato. A pandemia adiou os planos. Em janeiro agora, ele voltou a tocar no assunto, foi ridicularizado e chamado de maluco como poucas vezes. Mas na verdade, tratou-se de uma bela jogada geopolítica. Explico.
Nessa madrugada, a minúscula população groenlandense (foram 44 mil leitores aptos) escolheu seu parlamento sob a perspectiva de independência no foco do debate. O partido Demokraatit de centro-direita venceu o pleito e quer se livrar da Dinamarca aos poucos (entre 10 e 15 anos). Já a esquerda, que ficou em segundo, deseja uma ruptura imediata (no máximo em 3 anos). Mas desde antes da votação, a imprensa já vinha noticiando que os resultados seriam ruins para as pretensões americanas por conta das bravatas de Trump, que “uniram a população”. Sim, as notícias são baseadas quase que exclusivamente nas declarações de Jens-Frederik, líder do Demokraatit: “Não queremos ser americanos”. Além disso, pesquisas mostram que 85% da população concorda com ele. Mas a mesma imprensa também está ignorando o fato de que a Dinamarca simplesmente foi deixada de lado no processo, não participou do debate e dificilmente conseguirá manter sua colônia por muito mais tempo, mesmo sendo considerada a nação imperialista mais gente fina do mundo. A sementinha da independência foi plantada, germinou e cresceu em 50 dias mais do que em 300 anos de colonização. Com isso, os Estados Unidos tendem a assumir dia a dia o protagonismo nas relações com a ilhonabrancadesproporcionalnomapamundi, sobretudo por seus recursos naturais, sua posição estratégica, proximidade com o país e, principalmente, pelo interesse do próprio presidente.
Mas o motivo desse texto nem é esse. Por acaso você sabe quanto a Dinamarca gasta por ano para manter a Groenlândia?! Lembrando que são dois milhões, cento e sessenta e seis mil quilômetros quadrados, na maior ilha do planeta, numa área equivalente a um quarto do tamanho do Brasil e praticamente toda coberta de gelo… pois é, dinamarqueses pagam a bagatela de 2,4 bilhões de reais por ano para manter a região: segurança, saúde, aquecimento, infraestrutura, folha de pagamento, tudo está nessa conta. É muito? É pouco? Você me diz: esse valor é 65% do que anunciou ontem o governo brasileiro em gastos com propaganda em 2025. Não dá pra comprar, mas dá pra manter.