Governar por pesquisa e o caso da Argentina
Decisões duras costumam ser tomadas em momentos de crise. Nas famílias, nas empresas, nos governos. É carregado que o carro de boi canta. Quando uma mãe ou um pai de família decidem cancelar a TV a cabo e desmarcar a viagem de férias, eles não estão preocupados com os sentimentos do filho adolescente. Sua popularidade como pai ou mãe não valem nada. Nas empresas é a mesma coisa. Já nos países… Vejamos a Argentina: por anos, a preocupação peronista foi sempre com a próxima eleição. Essa espiral levou nosso vizinho a ter a maior inflação do planeta em 2023, com 211% e uma dívida pública estratosférica, com 9 calotes seguidos aos empréstimos contraídos no exterior. Não há credibilidade que se sustente. E mesmo na miséria absoluta, consequência dessa visão de país, as eleições que elegeram Milei foram duríssimas (55% a 45%). Mas por quê isso?
Por anos, a Argentina foi governada com foco na popularidade e nas pesquisas de intenção de votos. Para não perder apoio popular, gastava-se o que não tinha, e para conter as consequências da inflação decorrente do descontrole fiscal, que desvaloriza a moeda, as políticas eram sempre imediatistas. Seguravam o preço de combustíveis por decreto, congelavam aluguéis por decreto, e imprimiam dinheiro, muito dinheiro. Inflação, dívida pública e populismo são a receita para a insolvência e é isso que acontece quando se administra crise com o olho na eleição.
É inegável que vivemos uma crise no Brasil. Gastamos demais, cobramos impostos demais e temos baixa credibilidade institucional. Podemos depois discutir essas causas. Estamos caminhando, devagar ainda, é verdade, rumo à esquina do descontrole dívida x PIB, com a inflação corroendo poder de compra e o real perdendo valor no mercado.
Nessa tempestade perfeita, nos aparece uma pesquisa de popularidade, que embalada pelas trapalhadas recentes (pix, laranja, intervenção e deportados) mostrou um país pouco simpático à manutenção desse modelo de gestão. Nela, até o Nordeste dá sinais de estar soltando a mão do Lula. No mesmo dia da pesquisa vimos na agenda do presidente uma reunião com a presidente da Petrobrás, e amanhã, quarta, está agendada uma reunião do conselho da companhia que decidirá o reajuste nos combustíveis.
Com a alteração na política de preços adotada no Lula 3, nossa petroleira não corrige mais os valores com base no mercado internacional, e por isso a defasagem na bomba beira os 10% (entre diesel e gasolina). Assusta saber que antes de sentar na mesa do conselho da empresa, a presidente tenha se reunido com o presidente do país… se não tivermos aumento ou mesmo que os preços sejam reajustados (o que seria ruim para a imagem do presidente), o mercado ficará com a pulga atrás da orelha sobre o percentual. E sobre quem tomou a decisão. Quando um governo que já vem perdendo o apoio popular passa a dar sinais evidentes de querer esse resgate a curto prazo, as consequências são catastróficas. Governar com medo de ser impopular arrasta o país para o fundo do poço.