A imprensa e as relações internacionais

Não por pouco, a imprensa é chamada de 4º Estado (ou 4º Poder) desde o século XIX. Sua postura tem impactos na política interna e também nas relações entre países. Assistimos no fim de semana noticiários sobre quão degradantes foram as condições do voo que trouxe os brasileiros deportados dos Estados Unidos.
Nesse contexto, por três horas inteiras, o presidente da Colômbia (que soma hoje menos de 25 pontos de aprovação em seu país) foi tratado como um herói da resistência pela imprensa liberal brasileira por não autorizar o pouso de aviões com deportados vindo dos EUA em situação semelhante. Foi o tempo de fazer as contas do custo de uma eventual sobretaxa de 25% nos produtos colombianos ou ler a lista dos políticos e burocratas amigos que teriam o visto americano suspenso como retaliação.
Mas pouquíssimo se ouviu sobre o número de brasileiros deportados por Biden ou Obama (cada um devolveu mais brasileiros que Trump em seu primeiro mandato), nem o fato de que a maioria desses brasileiros já se encontrava presa nos Estados Unidos. Outro tema “esquecido” é que todo deportado dos Estados Unidos viaja algemado. Biden enviou 32 aeronaves com brasileiros, e todos vieram com as mãos juntinhas, e até o governo Bolsonaro reclamou disso. Em vão. Mas claro, quando as algemas são democratas, não tem problema, a imprensa não se indigna e deixa utilizar de boa. O que fere a humanidade desses brasileiros são as algemas republicanas, essas sim degradam e fazem com que a Ministra dos Direitos Humanos Macaé Evaristo seja escalada para discursar no avião da FAB, que buscou em Manaus e deixou cada um nos seus respectivos estados.
Essa obsessão pelo aumento da popularidade do presidente brasileiro a qualquer custo por parte grande da imprensa precisa ser combinada com o próprio governo primeiro, ainda mais nas relações entre países: o Itamaraty soltou uma nota moderada sobre o assunto, dizendo que iria fazer questionamentos sobre a maneira com que os deportados foram tratados e esperava que o mecanismo fosse aperfeiçoado no futuro, de modo a não ferir os acordos estabelecidos em 2018. Redondinha. Manteve a soberania brasileira, e foi comedida para evitar mais embates com o presidente americano. Foi a imprensa que jogou pra galera… e com isso, outros políticos pegaram carona e o cenário cresceu igual massa de pão… quando o noticiário se indigna mais que o próprio governo que ele defende, e estimula mais tempero que as relações internacionais ponderam, é sinal de que o café ficou mesmo sem conserto… vale lembrar que nas redações os moderados também sabem digitar… se nosso 1º poder perder o apoio desse 4º, e esse 4º começar a atrapalhar, não sei, não… basta uma nesguinha de suspeição pra cima do próximo presidente da Câmara para o fantasma do impedimento voltar a rondar o noticiário.