O carnaval também passa

Carnaval é a temporada de concessões. De enfiar o pé na enxurrada de água com outros líquidos suspeitos a beijar estranhos com hábitos mais ainda, o brasileiro já viu (ou fez) coisas que arrepiaram muito paralelepípedo por aí. Na festa da carne, sempre encontramos alguém perseguindo uma alegria fugaz. Este ano, até o governo está atrás de uma, na forma de “por cento” nas pesquisas de opinião.

Para tanto, a partir de agora, de 15 em 15 dias veremos, em cadeia de rádio e TV, o presidente buscando melhorar sua imagem, transformando a excepcionalidade dos pronunciamentos oficiais em ferramenta de propaganda. Tudo aos olhos condescendentes da Justiça Eleitoral, em mais uma página infeliz da nossa história. Mas esse não é o problema: na política, enquanto um juíz não diz que é proibido, não existe pecado. Pelo menos desse lado.

O problema mesmo está em encontrar enredo para tantos pronunciamentos regulares: estreamos a temporada de maneira requentada, com os programas Pé de Meia e Farmácia Popular. Para um país de acostumados a levar pedras feito penitentes, é pouco. Muito pouco.

Até o dia clarear, os olhares ficam todos nos desfiles dessa avenida chamada Brasil. Só não há expectativas de vermos passar a evolução da liberdade, ou algo que se aproxime de um samba popular. Também não faltarão palmas para a ala dos famintos. Mas felizmente, como tudo, vai passar.

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