A notícia que não pode ser dada

Filipe Martins esteve hoje no STF. Vindo de Ponta Grossa onde vive com sua tornozeleira eletrônica, o ex-assessor para assuntos internacionais do governo Bolsonaro foi autorizado a acompanhar pessoalmente o julgamento que aceitou sua denúncia feita pela PGR nos processos do 8 de janeiro e o tornou, finalmente, réu.

Mas Alexandre de Moraes foi cuidadoso para que o caso Filipe Martins siga circulando apenas na “bolsonarosfera” e restringiu como pôde sua presença na capital. Filipe só teve autorização para circular entre o aeroporto, o hotel e o Supremo, foi proibido de dar entrevistas e também não pode ter sua imagem postada em redes sociais, sejam elas de quem for. Para se ter uma ideia, no despacho de Moraes consta a proibição de se produzir ou divulgadar imagens suas em seu próprio julgamento ou de seu ir e vir pela cidade, mesmo que por terceiros, sob pena de multa e conversão imediata em prisão. Ah, detalhe: a multa e a prisão são para o Filipe, não para quem divulgar suas imagens. Não há precedentes na nossa literatura jurídica.

Com isso, o ministro inaugurou a figura do cidadão que não se pode noticiar, já que sem foto ou vídeo, não se tem jornalismo atualmente. Como os veículos não oficiais de imprensa operam exclusivamente no Youtube e no Instagram, podemos estar diante de uma maneira bem peculiar de censura: a censura prévia do tema. Dependendo de como virar notícia, Filipe Martins pode ser preso novamente, mesmo sem nenhuma responsabilidade, mesmo sem dar um pio. E aí?! Você arriscaria a vida do rapaz em troca de um post no Instagram do seu jornal?! Mandaria repórteres entrevistarem sua esposa ou seus advogados?! Melhor não, né?!  Pois é… estamos normalizando isso também.

Deixe comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos necessários são marcados com *.