A energia que move a nossa política

Quinta-feira, 17 de abril de 2025

A energia que move a nossa política

Sexta-feira, dia 11, noticiamos que não demoraria nadinha para o Ministro Haddad ser desmentido mais uma vez. O motivo seria o anúncio semana passada do aumento da faixa de isenção da conta de energia, de 50 para 80Kwh feito pelo Ministro Alexandre Silveira, de Minas e Energia. Quando perguntado sobre quem pagaria a conta, ou se a benesse sairia do orçamento, Haddad correu pra dizer que a medida sequer estava no escopo de prioridades do executivo e que o arcabouço discutido e aprovado não previa elevação nas despesas, sobretudo permanentes.

Até parece. Noticiamos também que o aumento do gracejo já havia sido discutido e acertado entre Lula e Silveira, em viagem realizada em fevereiro ao Rio Grande do Sul e que era questão de tempo o seu anúncio. Dito e feito: ontem foi enviado à Casa Civil o projeto de lei com o pacotinho de bondades. E deixando de lado o mérito de quem pagará a conta de 4,5 bilhões ao ano deste gracejo eleitoreiro (consumidores comuns, geradores individuais, consumidores livres e o tesouro), politicamente temos mais um saco de cruz com bicicleta criado pelo próprio governo para ele mesmo organizar.

É que Silveira não alinha os bigodes com Davi Alcolumbre (presidente do senado), e este vem pressionando nos bastidores pela troca do ministro, afirmando que Silveira “quebrou a hierarquia” e ao invés de se reportar ao grupo que o indicou (senadores do União Brasil com o apoio de Rodrigo Pacheco, do PSD), o ministro simplesmente “jogou sozinho” e virou as costas para todos eles. Na verdade, Silveira percebeu que não há nenhum ministério trabalhando com efetividade política minimamente aceitável, e bolou internamente essa medida, correu pra apresentar a Lula, que deu carta branca. Agora, caso o projeto que estende para mais de 60 milhões de pessoas a isenção na tarifa de energia tenha andamento como parece ter, Silveira ganha uma bandeira eleitoral que pode motivá-lo a dar passos mais ambiciosos em Minas Gerais.

Assim, Silveira e Rodrigo Pacheco devem entrar em rota de colisão em Minas a qualquer momento, já que o futuro político de um está umbilicalmente ligado aos planos do outro. Como são do mesmo partido e do mesmo estado, é natural disputarem protagonismo nas mesmas bases. Mas Pacheco se considera prioritário, mais experiente e melhor de votos, e agora precisa frear o ímpeto de Silveira, sob pena de interferir nas decisões de Davi Alcolumbre (que assumiu a presidência do senado graças a Pacheco), justamente quando a câmara flerta com a aprovação da PEC da Anistia.

Quando um governo se mostra inoperante tanto administrativa (Haddad) quanto politicamente (Lula, Gleisi, Lindbergh e Cia) e não consegue agir para mudar a maré das previsões eleitorais, qualquer um que apresentar uma ideia capaz de angariar alguns votinhos para 2026, tende a cair nas graças do presidente. Lula só esqueceu que, sem maioria no congresso, não é de bom tom criar inimizades com os presidentes das duas casas. A negativa da PEC passar no senado, dada como certa pelo governo, pode estar subindo no telhado. E quando se sobe no telhado, todo cuidado com os cabos de energia é pouco.

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