Aquele pedacinho chato entre o Carnaval e o Natal

Iniciamos hoje o trecho indigesto do ano para os mais foliões, já que período de festas indulgentes como réveillon, bloquinhos e Carnaval chegou ao fim. Se para milhões de brasileiros a parte boa de 2025 já ficou para trás, para o governo, a melhor fase ainda não surgiu no horizonte.

Na política, este ano teve início mesmo em 23 de dezembro de 2024, quando o ministro do STF Flávio Dino suspendeu a pedidos do Planalto os repasses de 4,2 bilhões em emendas que foram acertadas com Arthur Lira dias antes. A liberação do dinheiro fazia parte do acordo do governo com o então presidente da Câmara que selou as sucessões nas duas casas do Congresso. Daí pra frente, foi só pra trás: em 1º de janeiro começa o monitoramento das transações via pix, e uma onda de revolta toma conta do país. Ela acelerou a queda de Paulo Pimenta, substituído pelo marqueteiro da campanha de Lula3, Sidônio Palmeira em 14 de janeiro no Ministério das Comunicações. No mesmo dia, sai o vídeo do Deputado Nikolas Ferreira sobre o pix e 24h depois o governo recua e cancela a portaria.

Simultaneamente, saem os resultados de pesquisas de popularidade do presidente Lula. A imprensa se debruça sobre eles como nunca e debate, perplexa, porque o brasileiro rejeita tanto o Lula3. Junto a isso, Trump toma posse e a relação do presidente americano com Bolsonaro vira motivo de piadas em Brasília e nos telejornais. Sua não ida a Washington deu o que falar. Em seguida, saem as prévias da inflação de alimentos e em 24 de janeiro acontece a entrevista desastrosa do Ministro Ruy Costa, sugerindo que brasileiros troquem a laranja por outra fruta.

Dias depois, vazam os boatos de trocas de ministros na esplanada, às vésperas da eleição dos presidentes de Câmara e Senado em 1º de fevereiro. Para garantir o combinado lá atrás, o contrariado Arhur Lira é cogitado para a vaga de articulação (que ficou com Gleisi) ou até mesmo para o tão sonhado Ministério da Saúde (que ficou com Padilha). Se na Câmara Hugo Motta garante debater anistia, mudanças na Lei de Ficha Limpa para beneficiar Bolsonaro e corte de gastos pelo executivo, no senado, Davi Alcolumbre blinda ministros do Supremo e rejeita acenos à direita. Musk, Trump e Cia mostram ao mundo alguns números estranhos da USAID (agência americana de desenvolvimento estrangeiro) e o debate em fevereiro é inundado pelas movimentações vindas da terra do Tio Sam, principalmente em relação às tarifas, deportações, transferência de recursos para entidades afins à eleição de Lula e medidas contra Alexandre de Moraes. Em reação, a PGR se apressa em apresentar a denúncia contra Bolsonaro e Alexandre de Moraes passa a ser defendido oficialmente pelo Itamaraty. Na esteira, novas pesquisas de popularidade abrem fevereiro e arrastam ainda mais no chão os números de Lula. Ao mesmo tempo, café, carne, ovo, leite, azeite, frutas e verduras disparam aos olhos do consumidor, que não tem mais vergonha de dizer, até no Nordeste, que Lula sequer deveria ser candidato em 2026.

Tivemos ainda a visita de representantes da OEA para avaliar o cenário de eventual perseguição política e parcialidade imposto pelo mesmo ministro Alexandre de Moraes a pessoas físicas e empresas com viés ideológico à direita. Ainda aguardamos esse relatório. Já às vésperas do carnaval, Gleisi é confirmada na articulação com o Congresso e hoje, junto com Padilha na Saúde, toma posse. Ficaram de fora alguns eventos, como a falta de credibilidade nos dados fornecidos pelo IBGE, o desembarque dos partidos de centro da base do governo, o racha no PSOL, a disputa pela presidência do PT, os gastos da Primeira Dama, o orçamento de 2025 que ainda não foi votado e o enfraquecimento do ministro Fernando Haddad. Eles existiram, mas igual amor de carnaval, não ficarão registrados na memória. Já que o ano começa hoje, feliz 2025 pra você.  

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