Fake News e redes sociais

Em 2021, a revista O Otimista me entrevistou sobre Fake News. Na época, minha resposta, que se mantém até hoje, foi: “para ser chamado de FAKE NEWS, algo precisa primeiro ser NEWS”. Uma pessoa que escreve no seu “Insta” O PEDRO SENNA MORREU HOJE CEDO não produziu FAKE NEWS. Ela apenas mentiu. E mentir, mesmo que de forma deliberada, ainda não é crime. É feio, tem consequências, cabe reparação judicial, tudo isso confere: mas mentir segue sem ser crime. Neste debate, quem não poderia “mentir” seriam os atores que se incumbem de produzir notícias como atividade fim (NEWS). A discussão pode até se estender às pessoas, ou se manter às instituições: um jornalista da Folha, na sua rede social é um cidadão comum, ou continua revestido das insígnias do jornal? Ao meu ver, o debate poderia ir até aí. Mas só até aí. A Folha, não poderia divulgar algo como fato sendo fake. Já o repórter, no seu próprio perfil, caberia a discussão.
E enquanto esse debate não acontece, políticos, empresários, operários, as tias do zap, eu você e até os jornalistas “de folga”, seguimos sendo pessoas, livres para escrevermos o que a liberdade de expressão nos resguarda, incluindo dizer mentiras. A regulação das redes que se pretende no Brasil sequer passa por isso, e segue, a meu ver, como bode expiatório para um enquadramento ideológico perigoso. É só ver quem teve publicações e perfis derrubados pela justiça nos últimos anos. Responsabilizar as plataformas pela postagem de alguém é querer culpar o dono do muro pela pichação do vagabundo que chama o vizinho de talarico, e nitidamente traz um fator “pressão” que ruma para censura prévia.
Toda discussão é produtiva quando feita pelas razões certas. O que estamos vendo, no entanto, é uma tentativa de coibir FAKE NEWS, sem definirmos primeiro o que isso seja. Tenho uma solução mais fácil, e nem precisamos regular as redes sociais: é só decretar que mentir é proibido. Difícil é escolher o guardião da verdade.