Bola dentro nas relações internacionais.
Pegou ar. A expressão cearense para quem se inflama por conta dos outros cai como uma luva quando o assunto são os deportados dos EUA. Neste caso, o governo pegou ar com as críticas seletivas apresentadas pela imprensa no fim de semana às algemas nos pés e nas mãos dos brasileiros repatriados. Mas voltou atrás.
Na segunda-feira, o Ministro Lewandowski baixou o tom, e com serenidade afirmou não querer briga com o presidente americano. Na terça, foi a vez do Ministro Mauro Vieira descartar o envio de aviões da FAB para buscar os brasileiros, e parece que até a imprensa “enxamista” (termo cearense para quem fica “colocando pilha” nos outros) entendeu que neste assunto, a soberania americana e o histórico falam mais alto. E ontem, a reunião da CELAC (Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos) que trataria do tema, foi cancelada por pressão de Argentina e El Salvador.
Tudo bem: o caso do presidente colombiano ajudou a mostrar ao Brasil um rumo melhor para a questão, mas foram os próprios fatos, teimosos como sempre, que empurraram o caso para o desfecho que estamos vendo agora: deportados criminosos, soberania americana e o silêncio até então da imprensa quando perguntada porque não se indignou da mesma forma com 22 aviões cheios de imigrantes igualmente acorrentados enviados por Biden. Talvez a gota d’água tenha sido a própria Polícia Federal afirmar que também transporta estrangeiros algemados em voos de repatriação. A opinião pública também contribuiu. A maioria dos brasileiros ou não se importa com o tema, ou concorda com a nova política de gestão de migrantes adotada nos EUA.
Baixamos a bola e a temperatura, inclusive da imprensa. Falta apenas combinar com a ala mais à esquerda no congresso, pra ver se entendem que o melhor é a cautela e a diplomacia. Agora, pela perspectiva do governo, é torcer para que tenha temperança, e não saia correndo para se aconchegar deliberadamente nos colos de Rússia e China. Depois de completado um quarto do século XXI, já passou da hora do Brasil entender que, de vez em quando, o lado que governa os Estados Unidos também é vermelho.