Infelizmente, precisamos falar sobre o IBGE

Desde a nomeação do seu presidente, Márcio Pochmann em julho de 2023, o IBGE ocupa o noticiário. O nome escolhido por Lula nunca foi consenso entre técnicos do instituto e economistas envolvidos com dados sensíveis como os cálculos do PIB e demais indicadores econômicos.

Quando presidiu o IPEA (entre 2007 e 2012), Pochmann recebeu duras críticas e foi acusado de interferir em alguns estudos realizados. Eram outros tempos, e nada disso chegou ao conhecimento público em larga escala. Por seu perfil autoritário e radicalismo ideológico, alguns especialistas no assunto, entre eles o ex-presidente do IBGE Edmar Bacha e a economista Elena Landau (que redigiu o plano econômico ministra então candidata, Simone Tebet), não hesitam em afirmar que ele é capaz de colocar o órgão a serviço dessa ideologia. São palavras duras de pessoas que não arriscariam suas reputações com leviandades ou especulações.

A criação do IBGE + sob a alegação de Pochmann de que o órgão deveria captar recursos no setor privado oferecendo serviços para bancos e empresas assustou funcionários e preocupou analistas. Cartas públicas de servidores foram escritas e muitos diretores pediram exoneração. E faz certo sentido o incômodo: um órgão de captação, análise e divulgação de dados importantíssimos para a elaboração de políticas não deveria servir a dois senhores: o estado e a iniciativa privada. Se faltam recursos, fala-se com o chefe, no caso, a chefe Simone Tebet, Ministra do Planejamento, a quem o IBGE se reporta. Ou pelo menos deveria se reportar. Mas a ministra sequer foi consultada na época da nomeação de Márcio Pochmann, e chegou a afirmar com todas as letras que não conhecia seu histórico nem sua competência técnica, mas acreditava serem irretocáveis, já que a nomeação partira do próprio presidente.

De todo modo, a última coisa que o governo precisa no momento é perder a credibilidade em órgãos absolutamente técnicos como INPE (Pesquisas Espaciais), ANVISA (Vigilância Sanitária), INMET (Meteorologia) e sobretudo, o IBGE (Geografia e Estatística). São partes da gestão pública que devem ser capazes de divulgar más notícias sempre que elas forem encontradas, sem nenhuma interferência. Já imaginou: IPCA, INPC, inflação e PIB sendo divulgados e todos desconfiando dos números?! É o pior e o impossível sendo ditos na mesma frase.

De todo modo, a situação do órgão inspira cuidados. A crise se arrasta há tempos, e nada é feito. Digo isso porque o IBGE faz parte de um seleto grupo de órgãos de gestão dos quais NENHUM cidadão, nem mesmo o jornalista mais investigativo, deveria saber o nome de seus presidentes. É hora do governo mostrar altivez, trocar o presidente do IBGE e estancar mais esse problema enquanto é tempo. Pelo menos, nesse caso, a solução é bastante simples. É só fazer.

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