Judiciário enquadra legislativo e ninguém fala nada.
Que estamos vivendo tempos estranhos, não há dúvidas. No noticiário político então, nem se fale. Sempre digo que é muito positivo para o país quando a imprensa dá uma trégua aos políticos recém empossados, isso ajuda na resiliência das primeiras tomadas de decisão, deixa um clima de esperança, e melhora o humor dos investidores. E ainda por cima, esfria os ânimos dos que saíram derrotados nas urnas. É bom pra todo mundo. Mas do jeito que vemos nossa mídia main stream, o remédio está virando mesmo é veneno. Tudo que vem do governo, ou se mostra como uma ação que beneficia o governo, é tratado como algo bom, positivo. E na direção oposta, tudo vira sinônimo de coisa nefasta, perigosa. Mas se ficasse só nisso, beleza.
O problema é que, absolutamente NADA de “estranho” que venha de Brasília, ganha o noticiário. Ou pelo menos não ganha a devida análise, ainda que apenas pelo bem do registro histórico… Sem a internet, o Brasil não saberia do absurdo que é reversão do marco do saneamento, dos motivos que levaram o governo a fazer isso e as consequências para a população mais humilde. Menos ainda se falou no pente fino no Bolsa Família, que eliminou mais de 10% das pessoas cadastradas. Do aumento monstruoso dos gastos com os novos ministérios ninguém falou, e nenhum jornal ou emissora se deu ao trabalho de fazera conta. E choca o despreparo flagrante de alguns ministros, que não foram mencionados nem nos programas humorísticos. Ah, e do Léo Lins, que só pode fazer piada sobre homens brancos e héteros por decisão da justiça, a imprensa também não comenta. A lista é grande. Tem a fala do Ministro da Agricultura na China, o membro do MST na comitiva oficial para o mesmo país, os escândalos do orçamento secreto usado pra asfaltar a fazenda do Ministro das Comunicações, A Ministra do Turismo acusada de corrupção e de fazer parte das milícias no Rio de Janeiro, os preços das mobílias sem licitação, a Janja no Carnaval enquanto paulistas morriam soterrados, e olha que nem chegamos em junho…
O Brasileiro lê pouco, e do pouco que lê, dá preferência às manchetes. E elas estão envergonhando muita gente. Zelesnky deu o perdido no Lula no encontro do G7, mas a imprensa noticia que nosso chefe de estado e de governo ficou triste e culpa a agenda do presidente da Ucrânia. Alexandre de Moraes abre inquérito contra diretores de Big Techs mas não cita o crime que cometeram, como não cita o crime do Telegram, obrigado a se retratar por omitir uma opinião aos seus usuários, de um assunto que diz respeito aos seus interesses. O ex-governador da Bahia deixou a Embasa sem contrato no estado, ninguém se manifesta sobre, nem fala do lobby que ele fez contra o marco do saneamento. O Governador do DF foi afastado por negligência com os crimes do dia 8 de janeiro, o secretário de segurança do DF, que estava de férias no exterior fica preso quatro meses pela mesma razão, mas o ex-ministro do GSI, que deveria proteger o Palácio do Planalto, e aparece nas filmagens dando água para manifestantes, esse segue solto, e não entra no inquérito… e a lista da vista grossa renderia um livro.
Se o Deputado Dallagnol não tivesse dificultando ser notificado pela Câmara, este seria mais um caso esquecido pelo nosso jornalismo. Felizmente, a demora em ser “caçado” de fato, parece que fez os deputados e senadores, com destaque para o Presidente da Câmara, Arthur Lira, enxergarem nesse caso aquilo que não viram nas páginas dos jornais mais famosos: o poder que a justiça está tendo sobre os demais poderes. Sem falar que o ministro relator do processo contra Deltran, no TSE, Benedito Gonçalves além de ter sido citado na Delação de Léo Pinheiro, da OAS, na própria Lava-Jato, coordenada por Deltran, também deu declarações públicas contra ele, enquanto nem se falava de candidatura ou eleição. Será que esse argumento não poderia ser usado pra anular essa bendita condenação? No mínimo, o magistrado deveria ter se considerado impedido de julgar, relatar o processo, nem se fala. Mas num país onde um ministro do Supremo julga monocraticamente, e tira da cadeia o pai da sua comadre, se declara apto e afirma não ver problemas nisso, falar o que de jornalistas que podem se esconder atrás de infinitas desculpas?! é, parece mesmo que, no Brasil, o rabo vai seguir abanando o cachorro por um bom tempo. Tempos estranhos…