Só Deus escreve 100% certo em linhas tortas

Aprendi três coisas vivendo em Brasília e escrevendo sobre. Vou dividir o aprendizado: 1) jamais use terno escuro com sapatos brancos. 2) Jabuti não sobe escada. Por último e mais importante: dependendo de quem lhe faça o elogio, prefira a crítica.

Uma é restrita ao universo da moda, e talvez ao jogo do bicho. Outra é sobre compreender que nada na política acontece por acaso. E a terceira. Bem, vou exemplificar: a carta divulgada domingo à noite em grupos de WhatsApp pelo nobre advogado reclamando da falta de acesso ao presidente 3.0 caiu como um gemidão do zap no meio da missa. E como jabuti realmente não sobe escada, meus olhos atentos flertam com a possibilidade do verdadeiro emissário ser outro: José Dirceu. Como nada aconteceu desde sua aparição no congresso em abril do ano passado, aliás, as coisas só pioraram para o governo, faz muito mais sentido vir dele o recado do que do advogado que tentou manter vivo o melhor Steak au Poivre da cidade. E sejamos justos: salvaguardadas quaisquer restrições, Dirceu nunca quis o mal do Lula, e foi capaz de segurar a língua quando seus iguais falharam.

Sabendo da toxicidade de sua presença, Zé fez bem em escolher um alter ego conhecido nos corredores mais estreitos do poder em Brasília. Vendo que os rumos do governo capitaneados a la Janja e Sidônio estão fazendo água, ele pode ter acertado na forma, mas esqueceu que o autor de fato é quem tem o nome escrito na capa do livro: quando “o advogado” diz na carta “E nós temos o Haddad, o mais fenomenal político desta geração em termos de preparo. Um gênio. Preparado e pronto para assumir seu papel”, o destino do ministro foi decretado. Caso viesse de Dirceu, ok. Mas vindo de quem veio, se pudesse escolher, o ex-prefeito de São Paulo certamente preferiria ser incluído no hall dos criticados. Mas jabuti não sobe escada.

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